Situação de Aprendizagem desenvolvida pela colaboradora Claudia Renata
Texto: Pausa, de Moacyr Scliar.
Antes da leitura:
1º- Apresentação dos objetivos dessa Situação de Aprendizagem:
- reconhecer que o texto é narrativo e descritivo;
-trabalhar com duas características da narrativa, tempo e espaço.
2º- Breve apresentação do autor, através do data show e leitura.
Biografia
Filho de José e Sara Scliar, Moacyr nasceu no Bom Fim, bairro que concentra a comunidade
judaica. Alfabetizado pela mãe, professora primária, a partir de 1943 cursou a
Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche.
Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Nossa Senhora do Rosário (católico).
Em 1963, após se formar
pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica.
Especializou-se no campo da saúde pública como
médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969.
Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em
medicina emIsrael. Posteriormente, tornou-se doutor em
Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Foi professor da disciplina de
medicina e comunidade do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Em 1965, casou-se com Judith Vivien Oliven. O filho
do casal, Roberto, nasceu em 1979.
Moacyr Scliar era torcedor do Cruzeiro,
de Porto Alegre. Devido a sua morte, os jogadores do Cruzeiro fizeram uma
homenagem para este torcedor-símbolo do clube, entrando de luto na partida
contra o Grêmio,
no dia 27 de fevereiro,
que contou com um minuto de silêncio em homenagem a Scliar.
Carreira
Scliar publicou mais de setenta livros. Seu estilo
leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi
eleito para a Academia
Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de
prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009),
o Associação
Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989)
e o Casa de las Américas (1989).
Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de
temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida
de classe média e
vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze
idiomas.
Em 2002 ele se envolveu em
uma polêmica com o escritor canadense Yann Martel, cujo famoso romance A Vida de Pi, vencedor do prêmio Man
Booker, foi acusado de ser um plágio da sua novela Max e
os felinos. O escritor gaúcho, no entanto, diz que a mídia
extrapolou ao tratar do caso, e que ele nunca teve o intuito de processar o
escritor canadense.
Entre suas obras mais importantes estão os seus
contos e os romances O
ciclo das águas, A estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um
homem só e O centauro no jardim,
este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos
últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos.
3º- Refletir sobre o significado da palavra Pausa para a antecipação do tema.
*respostas dos alunos: parar, dá um tempo, parar por alguns minutos,instantes ou por um tempo indeterminado.
Durante a leitura:
1º- Leitura interrompida, explicando as passagens do texto e levantando expectativas de sentido de acordo com o desenrolar da história.
*houve um grande alvoroço por parte dos alunos quando comecei a ler a passagem que descrevia a chegada do personagem Samuel ao hotel até a finalização do sonho. Pensaram em tantas coisas que o riso acabou tomando conta de todos. É claro que depois expliquei a mistura e as sensações daquele sonho.
2º- Vocabulário: buscar pistas no texto para o significado de uma palavra e depois o dicionário, se for necessário.
Após a leitura:
1º- Conversando com a turma sobre as impressões: gostaram ou não? Justifiquem.
Questões para serem respondidas em duplas:
1ª-Vocês gostariam de dar uma pausa em suas vidas? Expliquem em que sentido.
2ª-Localizem no texto as palavras e expressões que indicam passagem de tempo cronológico e psicológico.
3ª-Em relação ao espaço da narrativa, descrevam em sequência, os lugares percorridos pelo personagem Samuel até o final do dia e onde ele passa a maior parte do dia.
4ª-O que Samuel fazia todas as manhãs de domingo?
5ª-As palavras "cais","guindaste" e "barcaças atracadas", dão ideia de que cenário?
6ª-Localize no texto um trecho que indica uma atividade rotineira , que faz parte de nosso cotidiano.
7ª-Como era o lugar que Samuel ia todos os domingos? Descreva com elementos do texto.
8ª-Porque Samuel era chamado de "seu Isidoro", pelo gerente do hotel?
9ª-Qual seria realmente o objetivo de Samuel ao ir todos os domingos àquele hotel?
10ª-Em quanto tempo parece que se passa a história?
Observação: a atividade toda foi trabalhada em quatro aulas, sendo duas dobradinhas num dia e duas no dia seguinte.
Segue o texto:
Pausa
Biografia
Filho de José e Sara Scliar, Moacyr nasceu no Bom Fim, bairro que concentra a comunidade
judaica. Alfabetizado pela mãe, professora primária, a partir de 1943 cursou a
Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche.
Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Nossa Senhora do Rosário (católico).
Em 1963, após se formar
pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica.
Especializou-se no campo da saúde pública como
médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969.
Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em
medicina emIsrael. Posteriormente, tornou-se doutor em
Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Foi professor da disciplina de
medicina e comunidade do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Em 1965, casou-se com Judith Vivien Oliven. O filho
do casal, Roberto, nasceu em 1979.
Moacyr Scliar era torcedor do Cruzeiro,
de Porto Alegre. Devido a sua morte, os jogadores do Cruzeiro fizeram uma
homenagem para este torcedor-símbolo do clube, entrando de luto na partida
contra o Grêmio,
no dia 27 de fevereiro,
que contou com um minuto de silêncio em homenagem a Scliar.
Carreira
Scliar publicou mais de setenta livros. Seu estilo
leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi
eleito para a Academia
Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de
prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009),
o Associação
Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989)
e o Casa de las Américas (1989).
Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de
temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida
de classe média e
vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze
idiomas.
Em 2002 ele se envolveu em
uma polêmica com o escritor canadense Yann Martel, cujo famoso romance A Vida de Pi, vencedor do prêmio Man
Booker, foi acusado de ser um plágio da sua novela Max e
os felinos. O escritor gaúcho, no entanto, diz que a mídia
extrapolou ao tratar do caso, e que ele nunca teve o intuito de processar o
escritor canadense.
Entre suas obras mais importantes estão os seus
contos e os romances O
ciclo das águas, A estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um
homem só e O centauro no jardim,
este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos
últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos.
Pausa
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:— Vais sair de novo, Samuel? Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher com azedume na voz. — Temos muito trabalho no escritório — disse o marido, secamente. Ela olhou os sanduíches: — Por que não vens almoçar?— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche. A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga. Samuel pegou o chapéu:— Volto de noite. As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o carro numa travessa quieta. Como pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:- Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente... - Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel. - Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu a chave. Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu; um cacarejo curto. Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a umcanto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira. Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos. Dormir. Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos. Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; índio acabara de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente:ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.- Já vai, seu Isidoro?- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.- Até domingo que vem seu Isidoro - disse o gerente.- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo. Samuel saiu. Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa. ¨
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